Ler e escrever: quando tudo isto começa?

Quando pensamos em alfabetização, a tendência é pensarmos numa criança em idade escolar, sentada numa classe, com um caderno e um lápis, escutando a professora.

É difícil imaginarmos quando as construções de tudo isto começam. Por exemplo, quando um bebê começa a “estranhar”, não está tendo nenhuma espécie de desajuste social, mas ingressando na capacidade de perceber diferenças, capacidade cognitiva que é a gênese para que um dia seja capaz de vir a compreender o conceito de número. Também é difícil de imaginar que quando o bebê começa a jogar os brinquedos no chão, observando sua caída com interesse e entusiasmo, está construindo parte das bases da noção de espaço e tempo, noções estas diretamente implicadas com a alfabetização, já que as palavras são a organização de letras num tempo e num espaço determinados. Ou que, ao começar a brincar de esconder-se , quer com um paninho no rosto, quer com o corpo total mais tarde, brinquedo que lhe causa imenso prazer desde bebê, está construíndo bases da simbolização, ou seja, a capacidade de imaginar que um objeto existe mesmo estando longe de sua visão.

Para podermos pensar nos caminhos que um bebê percorre para desenvolver habilidades ligadas a leitura e a escrita, precisamos saber quais são, afinal, as capacidades necessárias para estas aquisições.

Ler e escrever é um processo simbólico, disposto temporalmente num espaço organizado, envolvendo relações complexas entre corpo e psiquismo. Vejamos alguns aspectos importantes:

Enquanto motricidade: cobra da criança um conhecimento do próprio corpo, que por sua vez, possibilitará a organização dos dados espaciais, visuais e auditivos numa determinada direção; exige postura corporal, capacidade de estabelecer uma relação estável com as coisas que a rodeia, uma estabilidade com o centro de gravidade e um ajuste postural flexível; uma imagem do corpo organizada das impressões que recebe do ambiente.

Enquanto processo perceptivo: exige da criança uma regulação equilibrada entre os estímulos que entram (aferentes) e os que saem (eferentes); uma capacidade de perceber figura-fundo, ou seja, fixar atenção numa parte da cena e tornar o restante irrelevante; percepção de forma e estabelecimento de relações temporo-espaciais com os dados que lhe chegam.

Enquanto capacidades emocionais: ter desejo de aprender, o que representa a possibilidade de ser curiosa e aceitar que não sabe tudo; tolerar frustrações, como por exemplo, não saber tudo ou no tempo que queria saber, não ser a única a receber atenções da professora, errar e ter que repetir até dar certo, etc…

Vejamos agora, alguns aspectos destes pré-requisitos construindo-se durante o desenvolvimento de uma criança, desde seu primeiro ano. Vamos pensá-los através da relação da criança e seu ambiente, procurando situar as possibilidades que os pais ou substitutos tem para estimulá-la nestas aquisições. Lembremo-nos, porém, que qualquer atitude de estimulação só tem validade para a criança se for inserida num contexto de afeto, respeitando seus limites e seu estágio de desenvolvimento; aquilo que apenas se caracteriza como ” treinamento” é maléfico a sua vida emocional. Outro aspecto importante, a criança que vai se desenvolvendo, vai dando dicas para os pais daquilo que precisa. Precisamos, antes de tudo, escutá-la e observá-la! Vertificar aquilo que lhe dá prazer fazer e repetir significa que está precisando elaborar! Quando não demonstra interesse significa que, ou não atingiu aquele momento evolutivo ou já está em outro.

Primeiro ano:

Nos primeiros meses, enquanto mãe e bebê desenvolvem fortemente um vínculo, através das sensações corporais proporcionadas pelo toque, de todos os estímulos visuais, auditivos e gustativos , inicia-se, além da vida emocional, também uma série de aquisições cognitivas, percetivas e motoras. As carícias corporais, quer feitas nos cuidados higiênicos, quer através das brincadeiras, acompanhadas de verbalizações que vão sinalizando a relação entre o ato, a expressão de afeto e o som da voz, são fundamentais para o desenvolvimento. Por exemplo, enquanto acaricia ou limpa uma parte do corpo do bebê, vai-se nominando cada uma, fixando o nosso olhar naquela parte e nos olhos dele, como se estivéssemos apresentando-lhe o seu corpo.

Uma organização gradual da rotina, com estimulação não exagerada de estímulos, também são os fundamentos de várias aquisições relacionadas com a aprendizagem. Rotinas desorganizadas, troca exagerada de ambientes ou pessoas que cuidam da criança, dificultam-na a decodificar as informações e, consequentemente, prejudicam as bases da sua lógica de pensamento. Neste sentido, diz-se que nos primeiros meses a função da mãe é ser um “para-raio”, ou seja, deixa o bebê entrar em contato com diferentes estímulos, mas vai interceptando os excessos, para que seu sistema ainda primitivo, não entre em pane.

Neste primeiro ano, os materiais mais importantes para estimulá-la são os corpos, seu e dos familiares, principalmente da mãe, chocalhos, argolas e materiais de diferentes texturas e cores.

Por exemplo, quando o bebê começa a por o dedinho em buracos do corpo da mãe, como sua boca ou nariz, está descobrindo o espaço bidimensional, descoberta que desencadeará muitas outras relacionadas com esta capacidade. A exploração que começa no corpo materno vai, aos poucos, estendendo-se ao ambiente. Com este processo vai construindo a gênese dos conceitos de topologia.

As brincadeiras de exploração do corpo do outro devem ser compreendidas, sem permitir que ela o machuque; coloca-se limite verbal com o “não” ou mesmo segurando-a fisicamente, na tentativa de mostrar que dói na pessoa batida. Poder, um dia, permanecer com colegas numa classe de aula, respeitando-os, começa a ser construído também desde bebê. São os limites gradativos que vão ajudá-la a desenvolver a tolerância a frustração, condição básica para a aprendizagem formal: aprender algo pode requerer capacidade de persistência e um grau elevado de frustração.

Relacionar o som com o objeto de origem é começar a relacionar causa com efeito, processo básico na cognição; ajudar o bebê a reconhecer-se no espelho, perceber-se diferente da mãe, ajuda-o a integrar a imagem corporal e a desenvolver sua individualidade; estimulá-la a repetir sons, a imitar comportamentos e a acompanhar a linguagem verbal de gestos para que ela possa ir compreendendo-os, ajudam o bebê a desenvolver a linguagem verbal e a simbolização com ela relacionada.

Apresentar à criança outros ambientes, aos poucos, após os primeiros meses, quando ela começar a explorar com o gateio e o deambular. Para isto são ideais as pracinhas, além dos ambientes familiares, que além de introduzi-la nos brinquedos ao ar livre, também possiibilitam-na contatos sociais. Tudo isto, sempre tentando nominar os fatos verbalmente para ela, o que vai ajudando-a a desenvolver a linguagem, além dos aspectos motores e perceptivos.

Exploração maior do mundo ( físico e social), do seu próprio corpo e consequente experimentação dos limites dos mesmos:

12- 24 meses:

Conquistada a deambulação, a criança passa a sentir grande prazer em explorar o desconhecido. Agora o mundo não está mais centrado no corpo da mãe. Cabe a função materna estimular , aos poucos, esta passagem; permanecer próxima da criança, interferindo e ajudando-a quando esta não consegue realizar o que está se propondo; também, mostrando-lhe limites que ela não tem condições de verificar sózinha, consolando-a quando se depara com as impossibilidades do seu pequeno corpo.

Ajudar a criança a ampliar sua identificação de objetos e figuras continua a enriquecer aspectos de sua memória; cantar com a criança canções de ritmos variados, acompanhadas de movimentos corporais, ajudando-a a antecipar ações ou gestos. Por exemplo, cantar o “atirei o pau no gato” e ela é estimulada a dizer o ” miau” junto com quem canta. Isto tudo, além de ampliar o mundo simbólico, vai trabalhando as noções de temporalidade.

Brincadeiras com objetos de tamanhos e formas diferentes, em pequenos e grandes espaços. Sempre que possível, deixar que ela experimente a cena com o seu corpo. Por exemplo, com uma caixa na qual recebeu um presente, deixar que ponha coisas dentro dela ou, se for grande, que entre nela e brinque; esfregar-se no papel dos presentes que recebeu, explorando os diferentes materiais através do tato, das sensações corporais; entrar nos armários, abrir gavetas e esvaziá-las com prazer, meter-se embaixo de móveis, são indícios de um bom início de construção dos conceitos espaciais.

Ajudar a criança a começar a identificar e usar funcionalmente os objetos, começando pelos que são usados na rotina. Por exemplo, os da alimentação e do vestuário. Também, estimulá-la a independizar-se no uso dos mesmos. Isto desenvolve não só o seu nível de pensamento, mas também a motricidade e os aspectos afetivos relacionados com a individuação.

Nesta faixa etária os materiais mais usados, além dos utilizados no primeiro ano, podem ser com mais variedade de formas, cores e tamanhos. Introduz-se encaixes simples; areia e água para brincar livremente; brinquedos de alimentar e ser alimentado, de expelir e reter; brinquedo de bola interagindo com ela; brinquedos sonoros; brinquedos de puxar o objeto por um cordão, etc…

24-36 meses:

A independização é crescente. Se no primeiro ano a mãe funcionava muito como “para-raio” , agora passa a ser já um “posto de gasolina”, onde a criança vem seguidamente reabastecer-se emocionalmente, solicitando ajuda e afeto. As saídas para exploração do ambiente vão ficando mais repetidas e variadas e ela já brinca mais tempo sózinha.

Esta fase é delicada, pois precisa-se manter uma dosagem equilibrada, ou seja, não reter demais a criança perto de si, nem empurrá-la para longe. A mensagem adequada seria mais ou menos assim: “vá conhecer o mundo que eu estou aqui para ver até onde tu podes ir; voltes sempre que precisares, pois eu não fico chateada que estás gostando de outras coisas além de mim! Estarei sempre disponível para te reabastecer!”

” O que é isto? ” vai passando para os ” porquês?”, denotando uma passagem do saber o conceito da coisa, para entender causas e efeitos entre elas. É a evolução do pensamento! É importante estarmos disponíveis, sem dar explicações além do que foi pedido.

Nas brincadeiras e na rotina é intensificado o uso das mãos. Agora já manuseia melhor os objetos e consegue entendê-los funcionalmente. É capaz de rabiscar, descobrindo a mágica de produzir um traço, de se fazer existir numa folha. Controla os esfíncteres. Tudo isto começa a dar-lhe o prazer de sentir-se produzindo: “com o meu corpo posso produzir coisas!”. Neste sentido, deve-se ajudá-la a observar o que produz, mostrando-lhe os resultados de suas ações e estimulando-a a repeti-las e variá-las em torno da temática em questão. Por exemplo, se está rabiscando numa folha, fazê-la variar de tamanho do material, cores, etc…; se está mexendo na areia, argila ou água, ajudá-la a descobrir vários usos e formas de experimentar estes materiais.

Também, quando depara-se com limites naquilo que é capaz de fazer, precisamos ajudá-la a aceitá-los como desafio a ser encarado aos poucos. Fazer tudo por ela, deixando-a pensar que é produção sua, pode criar uma ilusão onipotente que a prejudicará muito na hora que estiver num grupo social, pois os amigos não irão protegê-la de enxergar suas dificuldades.

Aqui, além de estarmos ajudando-a a construir conceitos de tempo, espaço, motricidade e pensamento lógico, estamos ajudando-a a sentir-se capaz de descobrir e de criar, aspecto fundamental para a aprendizagem durante toda a vida. A criança que não está bem em relação à isto, precisa sempre ser empurrada para aprender ou foge das situações que ameaçam sua onipotência de saber tudo.

3 e 4 anos: “Quem sou eu, afinal?”

Agora já consegue sentir-se mais firmemente existindo separado da mãe.

Então, “já que sou alguém que existo desgrudado dela, quem sou eu?”

Por ter alcançado esta aquisição fundamental, já pode simbolizar de tal forma que o brincar de faz de conta causa-lhe intenso prazer, pois está, através dele, garantindo o desenvolvimento do seu mundo interno, com todas as implicações de desenvolvimento dos aspectos cognitivos. É capaz de representar diferentes papéis, principalmente os familiares.

Esta capacidade permite, gradativamente, colocar-se no lugar do outro, imaginar diferentes situações, sair um pouco do seu universo particular.

Deve ser estimulada a participar mais das rotinas, exercendo pequenas tarefas com os familiares, observando modos de executá-las e sendo estimulada a dar suas opiniões.

Quando levada para um lugar, conversar com ela sobre o caminho a ser seguido. Por exemplo, ” por onde vamos ao supermercado? E para a casa da vovó? O que tem na rua da escolinha? ” Quando contar-lhe alguma história ou fato, fazer-lhe algumas perguntas, tais como: “como começou a história? Como terminou? O que eu te contei? ” Sempre ajudando-a a descobrir aos poucos a organização de tempo e espaço contida na vida diária. São estas noções que culminarão com a capacidade de organizar letras em palavras e frases com sentido lógico.

As noções de tempo vão construindo-se gradativamente: primeiro entendendo “antes e depois”, segue-se ” noite e dia”, depois ” manhã, tarde e noite”, culminando na etapa escolar com a capacidade de entender os dias da semana e as horas. Por isto é importante sinalizarmos estas mudanças, fazendo-a dar-se conta disso. Por exemplo, “o que fazes quando levantas?” O que fizeste antes de ir para a escolinha?” Conta o que viste ontem na casa da titia?”

Os desenhos ganham forma e aparecem tentativas de delinear figuras e cenas. Não interessa a precisão da forma, mas o prazer de fazer e falar sobre o que está tentando reproduzir.

5 a 7 anos: Dos rabiscos para a diversidade das formas e símbolos- definindo quem ela é através da sua inscrição numa folha.

A pré-escola encarrega-se, nesta etapa, de trabalhar mais especificamente todos os conceitos que serão necessários para a alfabetização. Cabe a família estimular a criança a conviver socialmente, valorizando contatos diferentes, ajudando-a a perceber diferenças entre as pessoas que vai conhecendo e da importância de cada um. Por exemplo, “do que o teu amigo gosta de brincar?” ” O que será que a professora gostaria de receber no dia de seu aniversário?”, ” Quem é o mais alto da turma?”, ” O que aconteceu hoje no recreio?”, etc.. Isto tudo sem chatear a criança quando ela não quiser falar sobre o assunto. Pais intrusivos demais acabam fazendo com que a criança não conte nada do que acontece fora de casa.

Nesta etapa, as experiências sócio-culturais são cada vez mais importantes para o desenvolvimento da criança: leituras, passeios, exposições, lugares onde funcionam diferentes trabalhos. Tudo pode ser aproveitado para comentários e estímulo para que ela vá se posicionando naquilo que está absorvendo.

Acontece dela, às vezes, ainda contar fantasiosamente algum fato que viveu ou observou. Só devemos corrigí-la aos poucos, primeiro certificando-nos se isto está se repetindo muito.

Continuam as atividades motoras amplas, como correr, andar de bicicleta, pular, etc… Mas agora já tem condições de dominar melhor o seu corpo, preparando-o para usá-lo como instrumento da escrita. A motricidade fina vai se desenvolvendo mais, juntamente com o controle das emoções: pode parar mais tempo sentado, dedicando-se a uma atividade manual e de raciocínio. Estimular atividades de execução e descoberta são importantes.

Com todas estas aquisições, motoras, perceptivas, socioafetivas e cognitivas, o ato de ler e escrever é apenas uma consequência, quase natural. Por isto, muitas crianças alfabetizam-se antes de que a escola a ensine. É aquilo que se diz leigamente: ” Estava madura! De repente começou a ler os cartazes de propaganda na rua!” Ou então, ” começou a alfabetização e logo passou a ler e escrever nos primeiros meses!”

Porém, o importante, como pais, é sabermos que nada disso é mágico! Começa desde o nascimento! Quando chega na escola e apresenta dificuldades neste processo, precisa-se, juntamente com a escola, avaliar o que está faltando. Se há falhas num aspecto do desenvolvimento, no geral dele, ou nos aspectos pedagógicos da escola. Cada situação merecerá um tipo de ajuda, quer da família, quer da escola, ou se necessário, de um profissional especializado.

Não podemos esquecer que o ato de escrever e ler, antes de ser uma aquisição mecânica e um caminho para a inserção da criança no mundo social, é uma possibilidade da criança expressar-se enquanto ser humano em mais uma forma de simbolização. Por isto, ajudá-la a conquistar esta aquisição é proporcionar-lhe mais um meio de se fazer existir, de marcar presença no mundo. É mais uma forma de nascer para o mundo!

7- 10 anos- Acompanhando os primeiros anos escolares

Mesmo que a criança faça uma boa iniciação de alfabetização, esta etapa coloca muitas dúvidas para os pais: “até onde devo ajudar?”, “Faço como se fosse uma professora?”, “Obrigo a fazer da forma como acho que deve ser feita a tarefa?”, etc…

Primeiramente é necessário lembrarmos que estes primeiros anos de escolarização colocam a criança, mesmo que ela tenha tido experiência pré- escolar, numa série de situações novas para ela: precisa funcionar em limites mais definidos, desde o permanecer mais tempo sentado, até o de delimitar-se no espaço de uma folha do caderno.

As leis da leitura e da escrita impõe à ela que siga determinadas regras, tais como, direção da linha, determinados traços e todas as regras gramaticais que, aos poucos, vão sendo-lhe colocadas.

Neste sentido, principalmente os dois primeiros anos, a criança necessita uma maior capacidade de tolerar frustrações, capacidade de aceitar que ela não pode mais fazer só do jeito que gosta ou pensa que deve ser feito. Poder acessar a este novo mundo da escrita e da leitura e desfrutar de seu uso, implica em passar por uma fase onde precisa-se mecanizar as aquisições, o que subentende ter que fazer exercícios repetitivos e “chatos”para a criança que até então vinha mais agindo de acordo com o prazer.

Também, outro aspecto novo é a nova rotina de tarefas que devem ser feitas diariamente e que cobram uma capacidade de organização nem sempre aceita pela criança. Muitas das tarefas necessitam da ajuda dos pais, principalmente aquelas que implicam em buscar material em revistas, responder perguntas que são trazidas, etc…

A tarefa dos pais nesta fase exige uma dose bastante forte de dedicação: Sentar com ela, auxiliá-la sem atrapalhar o método da professora, encorajá-la a repetir o exercício mal feito, exigir, às vezes, uma correção necessária ou um maior tempo para a execução da mesma, valorizar o que ela aprendeu e consolá-la quando algo errado acontece.

Para isto, tornar-se necessário também uma boa comunicação dos pais com a professora: saber do método dela, a forma mais adequada de complementá-la em casa, dos aspectos que a criança deve dar mais ênfase nas lições, etc… É muito importante que a criança sinta que os pais e a professora estejam trabalhando na mesma direção, sem discordância entre eles. Isto porque o bom vínculo da criança com a professora será fundamental para que a aprendizagem ocorra adequadamente. Os pais devem estimular o afeto entre a professora e o filho, pois garantirão com isto um bom andamento do processo que se inicia; se, por acaso, sentem algo atrapalhando este vínculo, devem esforçar-se para um entendimento, falando com ambas as partes e ajudando-as a se unirem.

Às vezes, a parte mais difícil da tarefa dos pais neste acompanhamento é ajudar a criança a organizar seu tempo, dividindo-o entre o lazer e as tarefas, porém, é imprecindível fazê-lo. Para ela adquirir hábitos, tais como, fazer as tarefas e depois brincar, dormir num certo horário, arrumar os cadernos na pasta, organizar a mesa de trabalho, etc…, deve ser, aos poucos, estimulada e ensinada. Lembremo-nos, porém, que a rigidez ou o excesso de liberdade prejudicam estas aquisições. É aconselhável ir adequando tudo isto a forma de ser da criança, ajudando-a a descobrir um jeito mais prazeroso de levar adiante seus compromissos, jeito este que nem sempre é o mesmo dos pais. Não podemos esquecer que cada um tem sua individualidade, sua forma de funcionar melhor, forma esta que vai sendo descoberta aos poucos, durante a vida.

Passados os dois primeiros anos, onde se instala a mecanização deste processo, a criança vai podendo, cada vez mais usufruir destas aquisições e do que elas lhe possibilitam. Inicia-se uma maior incursão pelo prazer de ler e de escrever. Nesta fase os pais podem curtir juntos os conteúdos que o filho começa a revelar, como por exemplo, redações e interesses por alguma área mais específica. O companheirismo estende-se em possibilitá-lo desenvolver estas conquistas, sentindo o prazer cada vez maior com elas. Por exemplo, deixá-la ler algo para eles, fazer algum cálculo ligado a questões domésticas, enfim, valorizando-a no que aprendeu.

O importante é lembrar que, acompanhar o filho nas atividades escolares não é fazer por ele, não é tirar-lhe o direito de pensar e nem o de errar. Pais muito angustiados podem acabar antecipando soluções para os filhos, tirando-lhe o direito de ter um tempo para achar a resposta que os mesmos estão buscando. Esta conduta não só atrapalha naquele determinado exercício, mas, às vezes, influenciam todo o futuro da vida deles, marcando-os com uma dose inadequada de passividade frente os problemas que precisarão enfrentar.

AS DESADAPTAÇÕES ESCOLARES:

Compreender este tipo de dificuldade é sempre uma tarefa complexa e muitas vezes exige uma equipe multidisciplinar para diagnóstico e intervenção terapêutica. Os problemas surgem quando há uma ruptura no equilíbrio psicodinâmico que deveria existir entre a criança com seu potencial de ação e as demandas inadequadas do seu ambiente, tanto escolar como familiar e social.

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Dra. Vera Blondina Zimmermann
Dra. em Psicologia Clínica - PUC-SP, Professora afiliada do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, Coordenadora do Núcleo Bebês com Sinais de Risco em Saúde Mental no mesmo departamento. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto SEDES SAPIENTIAE onde coordena o curso Clínica Interdisciplinar da Primeira infância.

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