“Criança não namora”: campanha discute erotização precoce

Organizada pela Secretaria de Assistência Social do Amazonas, ação tem sido compartilhada por pais e mães na internet

A cena é corriqueira. Cedo ou tarde, os filhos voltam da escola anunciando um namorico com um coleguinha, menino ou menina. A reação dos pais oscila entre o susto e a surpresa. Nunca passa em branco. E nem pode. A Secretaria de Assistência Social do Amazonas lançou, no último dia 5 de abril, uma campanha na internet contra a erotização precoce das crianças, com o slogan “Criança não namora, nem de brincadeira”, em parceria com o blog Quartinho da Dany. A hashtag #criancanaonamora ganhou as redes sociais e faz parte de uma ação mais ampla do governo do Amazonas que pretende mobilizar escolas, comunidades, psicólogos e pais contra a exploração infantil.

“Em dois dias, nossa caixa de e-mails lotou” conta Carolina Pinheiro, assessora de comunicação da Secretaria do Estado de Assistência Social. “Não pensamos que fôssemos ouvir tantas histórias diferentes. Muitos pais e professores realmente não sabem como agir em relação ao assunto, e precisam de um suporte”, afirma Luiz Coderch, coordenador do Centro de Convivência da Família e do Idoso do Estado do Amazonas. “Esbarramos em um quadro mais complexo quando se fala em comportamento inadequado de crianças. No geral, elas apenas reproduzem o que veem em casa ou o que são incentivadas a fazer ou a dizer. Então, o problema é de toda a sociedade. O que ela vê, ela faz.”

É preciso respeitar o desenvolvimento cognitivo de cada etapa da vida. Uma criança não sabe o que é um namoro, ela não tem esse discernimento. Para Luiz, é natural que meninos e meninas sintam algum tipo de repulsa em relação aos beijos entre adultos – sinal de que ainda não têm maturidade para compreender todas as nuances de um relacionamento com outras pessoas. Do ponto de visto psicológico e biológico, precisam amadurecer. “Um abraço no amiguinho, um beijo no rosto e demonstrações de afeto que ele recebe dos adultos em casa são seu instrumental afetivo. Beijar os pais na boca, por exemplo, especialmente entre os 4 e 7 anos, não é algo totalmente adequado. Nem pediatras recomendam.”

Para Vera Zimmermann, psicanalista do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Unifesp (SP), o machismo ocupa papel central nessa história. Em idade escolar, meninos são incentivados a terem uma “namoradinha”, e meninas são ensinadas a se comportar. Essa é a regra geral. “Os pais interpretam o interesse pelo outro, as preferências por tais e tais amigos, as primeiras escolhas infantis, como algo erótico, quase genital. Não se trata disso. A criança só está aprendendo a fazer amigos e a se relacionar. Não são namoradas ou namorados. Essa é uma projeção dos adultos.

Professores e escolas também precisam estar atentos. A conversa precisa de uma correção de rota, caso o papo de namoro surja muito cedo. Criança tem de brincar. A brincadeira infantil é um exercício de comportamento; ao pular o aprendizado, a criança apenas reproduz comportamentos, sem compreendê-los. A hora de namorar vai chegar. “Os adultos é que precisam ser reeducados a entender o universo infantil. A criança não discrimina sentimentos de aproximação e amizade. Antecipar essas sensações só causam angústia à criança. É preciso reconduzi-la ao mundo infantil”, crê Vera.

AFINAL, QUANDO É HORA?

Vera acredita que, dos 9 aos 12 anos, com o início da adolescência, a curiosidade deve aumentar. Os pais precisam direcionar a energia das crianças para o conhecimento, para os esportes, os estudos, e aguardar a maturidade completa para a entrada na puberdade. Não é preciso estimulá-la nessa direção. Dar tempo ao tempo é a melhor resposta..

http://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/noticia/2017/04/crianca-nao-namora-campanha-discute-erotizacao-precoce.html

Deixe um comentário

logo_verabzimmermann_footer

Dra. Vera Blondina Zimmermann
Dra. em Psicologia Clínica - PUC-SP, Professora afiliada do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, Coordenadora do Núcleo Bebês com Sinais de Risco em Saúde Mental no mesmo departamento. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto SEDES SAPIENTIAE onde coordena o curso Clínica Interdisciplinar da Primeira infância.

ArtyWeb Designer© {2020}. Todos os direitos reservados.