Rebeldes com causa

Diário de São Paulo
Caderno Viver Domingo
10/09/2006

A banda mexicana RBD vira febre entre os adolescentes no Brasil.
Por Ana Paula Sousa

Em fevereiro deste ano, a estudante Camila Dias, de 17 anos, passou 48 horas sem dormir para ver seus ídolos de perto. Acompanhada pelo irmão Lucas, de 19, e pelas amigas Mariana, de 17, e Thaís, de 18, deixou a cidade de Marília (a 438 km de São Paulo) de madrugada para chegar ao Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, onde o grupo mexicano RBD desembarcou.

Sete mil pessoas, em sua maioria adolescentes, aguardavam a chegada da banda, que atua na novela “Rebelde”, para se tornar o maior fenômeno pop adolescente da atualidade. “Se tiver de fazer outra loucura pelo grupo, estamos aí”, brinca Thaís, que ao lado de Camila é uma das fundadoras do maior fã-clube nacional da banda.

O RBD vendeu 1,6 milhão de cópias de discos. Na novela “Rebelde”, exibida no Brasil pelo SBT, os integrantes do grupo interpretam situações do cotidiano dos adolescentes.”Assim como trata de temas como sexo e drogas, a trama fornece doses de sonho e romantismo.

Fala da realidade com clichês, mas é eficiente no modo como transmite sua mensagem”, diz Marcelo Feria, autor do livro “Segredo Rebelde” (Editora Futuro, R$ 16,90).

A ascendência latina da banda remete ao grupo Menudo, que ganhou o coração de milhares de adolescentes nos anos 80 com coreografias e canções como “Não se Reprima”. Mas, graças ao suporte da novela, o apelo do RBD é ainda maior.

A primeira turnê do RBD no Brasil começa no dia 20 deste mês, em Manaus (AM). Em São Paulo, o grupo deve se apresentar no dia 7 de outubro, no estádio do Morumbi. A temporada terminará com show no dia seguinte, no Rio, e a expectativa é de que, ao todo, 700 mil pessoas assistam às apresentações. “É a maior já realizada em estádios”, explica William Crunfli, sócio da Mondo Entretenimento, responsável pela vinda dos mexicanos ao pais. Nem o alto preço dos ingressos – entre R$ 40 e R$ 500 – espanta o batalhão de fãs. “Estamos preparados para enfrentar a fila para comprar as entradas”, avisa Camila.

Assim como a adolescente de Marília, Sabrina Canutti, aluna da 6ª série do Colégio Manoel Moratto, em Osasco, quer acompanhar o show. Ela pintou os cabelos de vermelho para ficar parecida com Roberta (Dulce Maria). “Gosto de ‘Rebelde’ porque fala de assuntos que fazem parte da realidade”, explica a garota.

Limites

De acordo com a psicóloga Vera Zimmermann, coordenadora do Centro de Referência da Infância e da Adolescência (CRIA), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os ídolos fazem parte do crescimento. O processo de identificação tem início na relação com figuras familiares e, aos poucos, estende-se para o meio social. No final da infância, a admiração dos pais é deslocada para outros personagens, que geralmente estão ligados a algum tipo de mídia”, explica.

Os ídolos, traduzem valores e desejos e isso é fundamental para o crescimento dos jovens. Mas, se o ídolos se tornar a única razão da vida do adolescente, é hora de intervir: “Os pais precisam acompanhar o que os filhos assistem. É preciso negociar. Por exemplo, se a criança estiver com suas atividades em dia, pode assistir a novela”, ensina a psicóloga Célia Horta.

Para Cristiane Semenssato, coordenadora do colégio Manoel Moratto, negociar foi a saída encontrada para conciliar os pedidos do fãs do RBD com as normas da escola. “As meninas queriam mudar o uniforme para ficar parecido com o da novela. Por isso, em um dia determinado, liberamos as crianças para virem vestidas como seus ídolos”, conta.

A influência dos pais, conta a educadora, foi determinante para controlar o fenômeno. Camilla Cavalheiro de Almeida, de 14 anos, por exemplo, deixou de ver a novela a pedido do pai. “Ele diz que preciso ver programas mais interessantes”, diz a menina.

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Dra. Vera Blondina Zimmermann
Dra. em Psicologia Clínica - PUC-SP, Professora afiliada do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, Coordenadora do Núcleo Bebês com Sinais de Risco em Saúde Mental no mesmo departamento. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto SEDES SAPIENTIAE onde coordena o curso Clínica Interdisciplinar da Primeira infância.

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