11/10/2006
Mais de 800 brinquedos foram lançados para o Dia das Crianças.
Mas o que elas querem mesmo é ganhar celular, computador, TV e videogame
Por Camila Antunes.
De acordo com o instituto de pesquisas Data Popular, os eletrônicos encabeçam a lista de desejos de meninos e meninas a partir de 10 anos. Alguns pais, no entanto, relutam em dar tais presentes. Uma das razões é o temor de que as crianças se excedam no uso de recursos tecnológicos e assim “emburreçam” ou se viciem nas telas. Mas a ciência já isentou os eletrônicos dessa culpa. Estudos concluíram que o uso adequado da tecnologia ajuda a afiar a inteligência dos pequenos. Outra razão para resistir à inserção da tecnologia na vida dos filhos é o preço. Os pais sabem que o investimento em um eletrônico caro não compensa por muito tempo. A criança vai querer o que há de mais moderno e, se for sempre atendida, pode crescer sem dar valor ao dinheiro.
Hora de presentear
VEJA perguntou a especialistas em comportamento infantil em quais situações os pais devem dar aquilo que os filhos pedem
DINHEIRO
Ceder ou não? Ceder
Deve-se dar dinheiro na forma de mesada ou semanada a crianças com mais de 5 anos. Trata-se de um bom instrumento para ensinar noções de economia e administração. Especialistas advertem, contudo, que não é bom aumentar a mesada quando o filho tira notas altas ou diminuí-la quando ele decepciona. “A mesada não é uma premiação, mas um instrumento de aprendizado financeiro para a vida adulta”, diz o psicólogo paulistano Marco Antonio De Tommaso.
CELULAR
Ceder ou não? Depende
A maioria dos psicólogos e educadores diz que os pais não devem dar um celular antes da adolescência. O principal argumento é que uma criança deve estar sempre acompanhada de um adulto e, portanto, não precisa de um telefone cuja principal função é localizar uma pessoa em qualquer lugar. Alguns psicólogos ponderam que o celular aproxima pais e filhos com rotinas agitadas. “Um pai que não pode almoçar com o filho, e quer saber como ele foi na prova, pode ligar ou mandar um torpedo. O filho, por sua vez, não precisa passar pela telefonista da empresa para falar com o pai”, diz a psicóloga Vera Zimmermann.
COMPUTADOR
Ceder ou não? Ceder
Há programas desenvolvidos para crianças a partir de 3 anos. Além de ajudar em trabalhos escolares, o PC também serve para a comunicação com os pais que ficam on-line. Mas os especialistas dizem que é importante monitorar as páginas visitadas pelos filhos e aconselham o uso de softwares que impedem a visualização de conteúdo pornográfico. “Não é uma invasão de privacidade. Assim os pais apenas cumprem o seu papel”, diz a psicóloga Lurdes Brunini. Recomenda-se limitar o uso do computador a uma hora por dia, sem contar o tempo de estudo.
ROUPAS E ACESSÓRIOS DE MARCA
Ceder ou não? Depende
Um dos argumentos que convencem os pais é “todo mundo tem, menos eu”. Mas, diz a psicanalista Vera Iaconelli, dar tudo o que a criança pede só porque ela leva em conta os gostos dos amigos pode fazê-la perder o senso de individualidade. É preciso ensinar a seu filho que ele não precisa ser igual aos outros. Se os pais não têm condições financeiras de dar um tênis caro, o melhor é que sejam francos e neguem. Se a família é rica – e a criança já tem uma respeitável coleção no armário –, uma saída é comprar a peça que o filho quer e descontar o valor da mesada.
Eles têm tudo, mas seguem regras
No quarto dos irmãos Fernandes (Mariana, 9 anos, André, 8 anos, e Júlia, 6 anos) tem TV, videogame e computador com internet sem fio. Cada uma das crianças tem o seu iPod e seu celular. A mais velha possui um palmtop. Os pais, Ana Maria e Euclydes, são favoráveis à tecnologia desde que os filhos obedeçam a algumas regras. Eles têm uma boa fórmula para conciliar a educação tradicional ao estilo de vida moderno:
A mesada é depositada no banco
Todos os meses a mãe entrega o dinheiro em espécie e leva os filhos até um caixa eletrônico. Eles depositam a mesada e conferem os extratos das contas individuais. Fazem compras com o cartão de débito.
O tempo de internet é limitado a uma hora
Esse período é estendido quando as crianças precisam usar a rede para trabalho escolar – e diminui nas semanas de prova.
A conta do celular é pós-paga
O pai confere a conta na presença das crianças. Elas sabem que não podem ultrapassar os 900 minutos de conversa permitidos pelo plano familiar de cinco aparelhos. Usam o celular para recados.
Luta contra o consumismo
Segundo a psicóloga americana Susan Linn, professora da universidade de medicina de Harvard, os pais estão perdendo autoridade sobre os filhos por causa das campanhas de marketing, que incutem valores materialistas nas crianças. Linn concedeu a seguinte entrevista a VEJA.
As crianças não são espertas o bastante para definir seus gostos e vontades?
Não. Independentemente do empenho dos pais em tentar impor limites, a publicidade é mais forte. Há gente especializada em explorar as fraquezas infantis e campanhas muito agressivas na TV.
As crianças adoram jogos eletrônicos. Elas teriam interesse em brinquedos artesanais?
Tenho certeza de que sim. O que faz a diferença é o estímulo. Outro dia dei uma boneca de pano a uma garota de 3 anos. Ela ficou procurando botões e me perguntou se a boneca não falava. Eu fiz o som de choro e disse que vinha da boneca. Na hora a menina entendeu que a boneca podia falar o que ela imaginasse.
Como os pais podem ensinar o valor do dinheiro para as crianças?
Um bom começo é mostrar o valor das coisas que não podem ser compradas: plantar uma árvore, contar uma história e inventar a própria brincadeira.
Qual seu conselho para os pais na hora de comprar um brinquedo?
Evitem brinquedos que fazem tudo sozinhos.