Bebês de Risco em Saúde Mental

Por Vera Blondina Zimmermann

Nas últimas décadas, concomitante ao avanço das neurociências, genética, epigenética e da psicologia do desenvolvimento, avançamos significativamente com descobertas sobre a vida pré-natal, sobre as competências de um recém-nascido e novas técnicas de detecção e intervenção precoce que eliminam ou minimizam danos, antes inimagináveis.

“Investigações atuais evidenciam que o bebê saudável tem uma organização complexa e potencialidade para entrar em relação com seus cuidadores primordiais desde o início da vida.”

No Núcleo de Bebês com Sinais de Risco em Saúde Mental do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) é realizada intervenções mesmo enquanto o diagnóstico é elucidado, entendendo que o sofrimento psíquico e as dificuldades e/ou impedimentos nas relações provém de uma multiplicidade de variáveis e quanto mais cedo a intervenção, melhor o prognóstico.

Um dos conceitos psicodinâmicos fundamentais, que sustentam a possibilidade de o bebê garantir sua capacidade relacional é o que denominamos de “instalação do circuito pulsional”, nos seus três tempos: Ser olhado, retornar o olhar, buscar ser olhado. (Laznik, 2001) .

Para entender um pouco sobre os conceitos psicodinâmicos relacionados ao assunto, imagine que está atendendo e/ou observando uma mãe e seu bebê nos seus primeiros meses de vida: o que podemos observar na conduta de ambos que nos orientará sobre a saúde mental desta criança? É esperado que descreva algo sobre os cuidados maternos e as possíveis respostas do bebê no cenário observado. Segundo a contribuição da psicanalista Lasnik (2001), o raciocínio está correto e podemos ser mais específicos em relação à observação de operadores de conduta. O operador fundamental é o olhar, e não estamos falando de um simples olhar, mas de um olhar especial – olhar que define o pedido de uma mãe quando deixa o filho sob cuidados de outra pessoa: “Olha o meu filho até eu voltar!”

O olhar que cuida do todo, que percebe as diferenças e as necessidades é observado pelo profissional. O bebê nasce necessitando ser olhado por quem exerce a função materna, neste momento não basta detectar o cuidado físico, mas sim verificar se a mãe, por exemplo, enxerga um olho verde sem que o bebê nem tenha aberto direito os olhos, se ela sabe contar ao profissional de saúde detalhes que demonstrem uma mãe emocionalmente entrosada com sua cria.

O segundo tempo esperado pela psicologia médica é que seja estabelecido um circuito de comunicação entre mãe e bebê. Ao responder ao olhar, é revelado que este percebe a existência de algo fora dele e que está disponível para realizar trocas que ocorrem ou ocorrerão. Desta forma ele constitui as bases de estímulos para seu psiquismo e para seu desenvolvimento em geral. Cada elemento e o repertório de comunicação vai se tornando mais complexo, e quem está atento ao bebê percebe as sutilezas destas respostas, seja no choro, nos gritos, nos movimentos dos membros, etc.

No caso em que não ocorra as respostas de interação por parte da criança, deve-se procurar ajuda de um profissional para acionar algum tipo de intervenção, pois pode-se estar diante de sinais de autismo, de depressão, e quanto mais rápido for esta busca, melhor será o prognóstico.

O circuito de comunicação conta ainda com um terceiro momento e este dirá se a constituição inicial do psiquismo está bem encaminhada. Nessa etapa é observado se o bebê busca ser olhado na ausência do olhar materno e se ele revela alguma conduta que chame a atenção: vai chorar, agitar-se, gritar, espernear até que lhe atenda, olhe para ele e estabeleça uma comunicação. Este tipo de reação é esperada já no final do primeiro trimestre.

No Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina – Unifesp, especificamente no Núcleo de Bebês com Sinais de Risco em Saúde Mental, realizamos atendimentos de bebês (0-3 anos) e suas famílias, pesquisas e formação de profissionais. Trata-se de uma tarefa multidisciplinar, visando a prevenção e intervenção precoce em saúde mental, o que também enriquece a grade curricular da formação de novos psiquiatras da Infância e Adolescência. Aceitamos a participação voluntária de profissionais de diferentes áreas da saúde para acompanhar as atividades do Núcleo. Outras informações pelo site do departamento e pelo contato com a coordenação do Núcleo.

Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp)

Site: http://www.psiquiatria.unifesp.br
Endereço: Rua Marjor Maragliano, 241 – Prédio Acadêmico – Vila Mariana , São Paulo – CEP: 04017-030
Horário de funcionamento: Segunda a Sexta, das 8h às 17h

Núcleo de Bebês com Sinais de Risco em Saúde MentalSite:

https://www.verabzimmermann.com.br

Vera Blondina Zimmermann

Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do SEDES SAPIENTIAE, Dra. em Psicologia Clínica-PUC/SP, professora afiliada do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
http://lattes.cnpq.br/3237114281766241

Bibliografia:

LAZNIK, M.C. A hora e a vez do bebê. São Paulo, Instituto Langage, 2013.
MARCO, Mario A. de; ABUD, Cristiane; LUCCHESE, Ana Cecilia; ZIMMERMANN, Vera Blondina. Psicologia Médica- abordagem integral do processo doença-saúde. Porto Alegre, Artmed, 2012.

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Dra. Vera Blondina Zimmermann
Dra. em Psicologia Clínica - PUC-SP, Professora afiliada do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, Coordenadora do Núcleo Bebês com Sinais de Risco em Saúde Mental no mesmo departamento. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto SEDES SAPIENTIAE onde coordena o curso Clínica Interdisciplinar da Primeira infância.

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